Por Cristina Mioranza, presidente do COMITES-RS – Comitê dos Italianos no Exterior, circunscrição Rio Grande do Sul
Em um país miscigenado como o Brasil, a presença de (i)migrantes de diversas origens ajudou a estabelecer parte da diversidade da cultura – e também a povoar o país com descendentes de diferentes pátrias. A Itália foi uma das nações que mais contribuíram para isso, com a chegada de cerca 1,4 milhão de imigrantes entre 1870 e 1920. É natural, portanto, que as gerações subsequentes nutram grande interesse por saber mais sobre seus ancestrais e, claro, suas próprias origens.
A busca por informações acerca dos antepassados, a cidade em que moravam e os motivos que levaram alguns a emigrar, e outros membros da mesma família a ficar, são razões que provocam muitos a empreender uma viagem ao país originário de seus ascendentes. Isso tem nome e se chama turismo de raízes ou, no caso do vínculo com a Itália, “turismo delle radici”.
Descendentes das primeiras gerações já tinham essa prática, com foco voltado no estabelecimento de conexão com a família. À época, muitos que viajavam para a Itália não eram bem-vindos, fruto da desconfiança de que estariam atrás de dinheiro ou de uma suposta herança. O comportamento, típico de “gringo”, justificava-se. Afinal, quem não ficaria meio receoso com um parente nunca visto batendo à sua porta?
Hoje, no entanto, há outro entendimento por parte dos próprios italianos acerca da história da emigração deles para o Brasil. Logo, estão muito mais receptivos sobre nosso interesse com a pátria-mãe dos imigrantes. É genuíno querermos saber de onde viemos, o que as pessoas que vieram para cá faziam e como era a vida delas. É uma viagem de descobertas: enxergar no outro características genéticas ou descobrir tios e primos desconhecidos pode ser transformador.
O turismo de raízes também abre espaço para que possamos explorar essas cidades, muitas vezes minúsculas, fora dos roteiros badalados, e que escondem preciosidades. Visitá-las é uma rica maneira de mergulhar na cultura do lugar, nos hábitos e costumes daquele povo. A igreja, a praça e os pontos de encontro são tão importantes quanto a casa onde viveu nosso avô, bisavô ou tataravô porque nos permitem reconstruir a memória da família e ativar sensações atávicas.
Estima-se que existam cerca de 30 milhões de descendentes de italianos no Brasil, o que posiciona o país com a maior população mundial de “oriundi” fora da Itália. Há grande procura pela busca da cidadania italiana, documento que, acima de tudo, nos coloca diretamente em conexão com nossas origens. Através dele, abrimos as portas do mundo, mas principalmente viajamos para uma jornada interior de autoconhecimento na qual o prêmio é descobrir quem somos.